25 agosto 2007

e pensar que são os mesmos velhos tacos de sempre. um mosaico de madeira que a gente chama de chão. guardam nossos momentos em segredos, como escondem poeira no rejunte de sinteco. os mesmos quadros e retratos com sorrisos que já passaram. as quatro paredes guardam. os mesmos lençóis por testemunha, a despeito da cama nova, que já vive nosso peso, mas não nos conhece tão bem. a maçaneta da porta, como um espelho côncavo, refletindo nossas tardes de amor. é engraçado, mas as tardes sempre foram tão melhores que as manhãs e as noites. desconheço o motivo disso. talvez as testemunhas saibam, observam por tanto tempo nossos cantos, choros e risos. o mesmo sol que desenha a sombra da grade de ferro no chão de tacos. a mesma cadeira, que faz vezes de mesa para guardar o abajur que ganhou de aniversário. o teto branco guarda nossos segredos, broncas e gemidos. o mesmo relógio que nunca funcionou e guarda sempre a mesma hora. a cortina azul que parece um céu de estrelas quando amanhece. as mesmas folhas verdes que enfeitam a janela. adesivos tornam-se papéis velhos e guardam histórias que desconheço. o armário com portas sempre abertas, e tudo o que ele guarda. roupas, sapatos. velhos, usados, surrados. e nos conhecem tão bem. nosso mundo e vida cabem nesse quarto. e guardo cada detalhe. a bolsa que sempre descansa no pufe alaranjado. a mochila que passeia com você pela cidade dorme sempre no mesmo canto. a tv nos observa toda noite. a antena nos aponta e ameaça. os mesmos travesseiros adormecem e despertam com nosso perfume. a coberta agora guarda nosso calor. e a gente passa. mas o quarto que agora está vazio guardará sempre tudo o que fomos juntos. nossa vida construída em retalhos, reflexos e tacos de madeira.

3 comentários:

Rafael Campos disse...

eu também vivo de lembranças

Anônimo disse...

texto lindo, Fê...

photographie disse...

que bom que a bárbara gostou!