28 março 2007

"as pessoas se libertam. um dia vão embora. e quando é a hora em que está quase acontecendo é uma coisa estranha. parece que o corpo vai se dividindo, a pele vai rasgando, vão se tornando duas a pessoa que era uma só. a imagem no espelho vira as costas e toma outro caminho. cansa de concordar. as panelas, os discos, os livros e os filhos tomam partidos diferentes. a correspondência aprende que são dois novos endereços. de uma janela vê-se montanhas. da outra, pasto. inventam-se novos hábitos, novas palavras. compram-se novas roupas. a música é outra. e logo se confundem por já não saberem mais quem são. ainda assim, dentro não estão separados. são dois corações emendados por umas costuras bonitas, uns pontos feitos à mão. e eu acho que é dor essa coisa estranha que se sente quando o tempo decide que é hora de desatar" (c.)

2 comentários:

c. disse...

fico lisonjeada.
é gratificante saber que as coisas tocam verdadeiramente outras pessoas além de mim.

photographie disse...

sim, sim, sim - tocam verdadeiramente. muito bom descobrir você e seus escritos! gostei muito do que li!!!